☆Um amigo
perguntava-me há uns dias quais eram as minhas motivações para escrever sobre
determinado tema. Com grande suspense respondi: - não faço ideia. E
acrescentei: - talvez seja fisgada por acontecimentos do quotidiano, inquietações,
partilhas que me fazem, experiências que tive, coisas que encontro nas minhas
arrumações, frases ditas num qualquer filme ou série de uma matiné de domingo.
‘Deixas’ que fazem o pensamento voar e fluir, um pouco sem amarras, sem lugares
certos ou momentos perfeitos.
Numa destas minhas
arrumações, encontrei uma ‘carta de despedida’, bem perdida no tempo. Li e reli.
Ela fez-me pensar sobre o momento em que a escrevi, as razões pelas quais
escrevi (e nunca enviei) e o que ela significou e significa.
Ao longo da nossa
vida fazemos várias despedidas... despedimo-nos do que não queremos, do que não
nos quer e do que não nos serve mais. Despedimo-nos do que perdemos ou do que
nunca foi nosso. Despedimo-nos do que não pode ficar, do que nos foi tirado ou
do que teve de ir, pelas inevitabilidades da vida. O bom da despedida é que
houve encontro. O pior da despedida é a incerteza da volta (ou a certeza que
não volta) e, por isso, vezes sem conta, transformamos o “adeus” num “até logo”,
talvez por acreditarmos que a despedida é um encontro que ficou para depois. Não
é fácil lidar com as despedidas, mas algumas delas são necessárias. Algumas
delas necessitam de cartas de despedida. Estas sim, escrevemos poucas, talvez
por sabermos que cartas de despedida só se
escrevem uma vez, porque elas representam encerrar ciclos, desapegar-se e
deixar ir. Escrevemos poucas, porque tendemos a ficar apegados/as às coisas, às
pessoas, aos sentimentos e aos lugares, que não sendo tendencialmente mau, nos
pode impedir de seguir.
Escrever cartas de despedida não significa
esquecer, significa libertar (-nos) e preencher o vazio da ausência com coisas
que somam. Significa afirmar, contar em voz alta a história. Significa aprender
que ter de continuar é muito mais do que esperar dias melhores, é aceitar a
responsabilidade que temos em deixar que o “nosso mundo” se modifique, se
despeça e se transforme.
Talvez os Recomeços precisem de cartas de
despedida, para que a despedida não seja o eterno “transbordar em
reticências” que não permita recomeçar.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarLindo texto! Mas, digo-te já: ai de ti! Quero-te perto.
ResponderEliminarSabes que sou uma chata, por isso... sempre pertinho!!! kkkkkk
ResponderEliminarSim, as cartas de despedida pretendem ser um ponto final que substitua as reticências. Há muito que não escrevo uma carta. Relembro a formalidade das epístolas, que nos levavam a seguir regras. Relembro a poesia das frases, que choravam as separações temporárias. Há um mundo que se foi perdendo, transformado em SMS ou textos curtos. Já poucos gostam de ler textos longos. Adaptamo-nos. Mas as cartas não deixam de ser marcos... marcos de correio.
ResponderEliminarBeijo
João
Obrigada, João, pelo teu comentário. É bem verdade, escrevemos poucas cartas... tudo foi substituído pela urgência em que se vive hoje.
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