quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Crónicas de uma viagem à Índia: “Take time to be kind”, a melhor das aprendizagens


“Breathe in, breathe out... feel the enerzyy... Gut, gut”, repetia vezes sem conta o nosso mestre de yoga. Arriscamos na aventura de fazer uma aula de yoga, em Varanasi. Não podíamos deixar de experienciar esta arte milenar originária da Índia, relacionada com o budismo e com o hinduísmo, e cujo objetivo central é o desenvolvimento, harmonização e unificação do ser. Uma filosofia prática que, como nos explicava o mestre no início da sessão, trabalha o corpo e a mente. Por isso yoga e meditação foram desenhadas para serem praticadas em conjunto, porque o yoga ajuda a fortalecer o corpo e a meditação ajuda a fortalecer a mente. Á medida que praticas o não-julgamento e a aceitação ganhas mais espaço interno para a transformação, dizia ele. Neste princípio iniciamos a nossa aula aprendendo técnicas e prática corporais, respiratórias, de relaxamento e concentração. Tivemos momentos exigentes, principalmente físicos, para conseguir acompanhar as posições do yoga e os difíceis exercícios de respiração, mas também de diversão e boa disposição. Praticamos o Om, que representa o poder de Deus por ser considerado o som da criação. E terminamos com o yoga do riso, que foi verdadeiramente terapêutico!!
Quem pratica yoga sabe que existem diversas linhas e orientações, que exprimem diferentes princípios filosóficos e métodos. Não pretendo falar do que não sei, mas partilhar a experiência do que senti. Por um lado, a experiência de ter percebido que, independentemente de estar num templo, numa rua ou no Hard Rock Café, a mensagem está sempre lá: “Love all Serve all”, “Take time to be kind”. A Índia transpira essa espiritualidade (não significando isso que não aposte no conhecimento e no progresso), essa harmonia com a Natureza e com o Divino,  mobilizando-se em torno de uma cultura mais baseada no ser do que no ter. Talvez isso explique o sentimento de segurança (e.g. crime de roubo, assalto...) que vivenciei durante a minha estada. Por outro lado, a experiência de “não ter percebido” como é que uma cultura de dádiva ao outro pode ser conciliável com um sistema de castas que, não sendo oficial, está enraizado culturalmente na forma de símbolos e tradições, perpetuando desigualdades sociais, naturalizando a miséria como uma “vontade de Deus”, e mantendo a condição desvalorizada da mulher, mas sobre isto escreverei um outro post.


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