No
Dia Internacional das Meninas, faz todo o sentido escrever este post.
A Índia é um país cujas desigualdades de género são gritantes e a condição da mulher e da menina é de uma fragilidade abissal. Cerca de duas mil raparigas são mortas por dia, devido a uma política inqualificável de controlo da natalidade com base no género do feto (fetocídio e infanticídio). As estatísticas demográficas sugerem a existência de um “generocídio". Este desequilíbrio traz outros e faz aumentar as diferentes formas de violência contra o sexo feminino, como por exemplo, a criação e o crescimento de um mercado de noivas no sul da Ásia, onde meninas e mulheres são traficadas e sexualmente escravizadas. Os crimes contra mulheres, particularmente a violência sexual, têm uma expressão avassaladora, agravados pela legitimação e naturalização dessa violência, não só pelas populações (principalmente as mais rurais, que continuam a ter imensa expressão na Índia), mas também pelas instituições e por líderes políticos e religiosos. Neste sentido, a violência de género é tratada como inevitável e difícil de erradicar, apesar do aumento da contestação e dos movimentos sociais! Se juntarmos a violência de género ao sistema de castas, a situação torna-se ainda mais grave.
A Índia é um país cujas desigualdades de género são gritantes e a condição da mulher e da menina é de uma fragilidade abissal. Cerca de duas mil raparigas são mortas por dia, devido a uma política inqualificável de controlo da natalidade com base no género do feto (fetocídio e infanticídio). As estatísticas demográficas sugerem a existência de um “generocídio". Este desequilíbrio traz outros e faz aumentar as diferentes formas de violência contra o sexo feminino, como por exemplo, a criação e o crescimento de um mercado de noivas no sul da Ásia, onde meninas e mulheres são traficadas e sexualmente escravizadas. Os crimes contra mulheres, particularmente a violência sexual, têm uma expressão avassaladora, agravados pela legitimação e naturalização dessa violência, não só pelas populações (principalmente as mais rurais, que continuam a ter imensa expressão na Índia), mas também pelas instituições e por líderes políticos e religiosos. Neste sentido, a violência de género é tratada como inevitável e difícil de erradicar, apesar do aumento da contestação e dos movimentos sociais! Se juntarmos a violência de género ao sistema de castas, a situação torna-se ainda mais grave.
Se
é verdade que não vivi de perto estas situações, elas estão lá... a cada
esquina, muito presentes nos quotidianos, na apropriação dos espaços, nas
mensagens, nos olhares, na sinalética, no comportamento.
Uns
dias antes de eu viajar para Índia, a comunicação social divulgava uma mensagem
do ministro do turismo que apelava às mulheres estrangeiras ‘coisas básicas’
como não sair à noite ou não usar saias, porque a cultura indiana é diferente
da ocidental. Chegada lá, ficamos com a impressão de que existem muitos mais
homens do que mulheres nas ruas. O espaço público é masculino, e esta foi uma
sensação recorrente e impactante quando circulávamos nas ruas ou quando
entravamos nos estabelecimentos comerciais, na restauração ou mesmo na
hotelaria. Nas estações de comboios e nas suas imediações, temos a sensação de
que existem três ou quatro mulheres por cem homens. Á noite, então, esse número
parece reduzir-se ainda mais. As mulheres estão lá, mas é como se fossem
invisíveis. Nem as cores fortes dos saris as parece visibilizar. De facto nós
vemos não o que olhamos, mas a relação com aquilo que olhamos. Claro que esta
situação da mulher não é exclusiva da Índia, mas a sensação de invisibilidade
social foi inigualável a outros contextos onde já estive.
Em
quase todos os locais que visitamos, havia filas separadas para homens e
mulheres. Nos metros, cadeiras “for ladies only” e sinalética com números de
telefone de emergência para esquadras exclusivas para mulheres, tal é a
expressão das formas de violência contra a mulher. A segurança material que
senti em toda a viagem ia sendo interrompida pelos olhares indiscretos e
invasivos dos homens e rapazes com os quais nos cruzávamos e que frequentemente
nos abordavam (para tirar fotos, para vender, para perguntar de onde
vínhamos...). Nunca senti uma forma direta de assédio mal intencionado, mas
acredito que a presença masculina no grupo tenha tido aqui um papel primordial.
A Índia não é um país violento, mas é muito conservador no que se refere à
condição da mulher.
Quase
um século depois de Gandhi ter apelado à igualdade para as mulheres e ter
pedido aos homens indianos que as tratassem com respeito, a lição ainda tem de
ser aprendida!!
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