Há uns meses decidi fazer umas arrumações.
Abrem-se caixas, mergulha-se no passado, reavivam-se memórias. Encontrei dezenas
de desenhos de moda que eu fiz nos anos de '93 e '94, tinha eu 16 anos. O gosto
pela moda era um sonho de criança. Desde pequena que idealizava e vestia as
minhas bonecas com os retalhos de tecido que a costureira vizinha me oferecia e
a cartolina e os lápis de cor que serviam para fazer os chapéus, as carteiras e
até os sapatos. A Barbie era a modelo, por excelência. A
personificação da beleza, um ícone da moda. Com ela vivia-se no mundo do fairy tail fashion. Com a enorme gama de acessórios de estilo de vida, a Barbie
existia (e existe) para consumir. Um consumo que as dificuldades económicas dos
meus pais não suportavam, e que aguçaram a minha criatividade. Ao não poder ter
os conjuntos de roupa e acessórios, comecei a idealizar e a fazer. Numa época em que as crianças tinham tempo
para brincar, eram tardes e tardes em sonhos de haute couture. Peças feitas sob medidas, com padrões combinados na
perfeição, e com os traços da irreverência que me caracterizava na altura. Altura essa em que não questionava, como faço agora,
o impacto da "Barbie" nos padrões de beleza ou na normatização de estereótipos de
género.
A adolescência afastou as bonecas, mas não o
gosto pela moda, que passou a exprimir-se no papel, pelo desenho. Figurinos
estilizados, que exprimiam os valores estéticos e os padrões de gosto de uma
época. Nesses
desenhos realizava-se o sonho de criança.
Hoje, ao olhar para esses desenhos descobertos
numa caixa perdida no tempo, as questões impunham-se: Por que deixei de
desenhar e de criar? (bem, talvez por não ter jeito, é uma hipótese!!) Onde ficou
aquela minha irreverência criativa que a idade pareceu normatizar? Não me
tornei estilista, nem segui os caminhos da moda, mas reencontrei essa irreverência
na Sociologia, área na qual me formei; e redescobri a criatividade na dança. Da
moda ficou apenas o gosto e a curiosidade, que foi aguçada, o ano passado, pela
lecionação de uma disciplina de Sociologia do Consumo e da Moda num Curso de
Design de Moda. Admito que sair da caixa foi uma experiência bem empolgante!!
Não, este não é um artigo sobre moda. É um artigo
sobre sonhos e conquistas, que se foram ajustando ao crescimento, à maturidade
e às perdas no caminho. Não sei se o final deste “Era uma vez...” termina “E
foi feliz para sempre”. Mais importante do que o fim é o processo, os/as
personagens, o enredo, os argumentos e os diálogos, que dão vida à história, e
nos mostram que o final somos nós que o escrevemos, em sucessivas redescobertas
e recriações.
Se és Feliz agora... já o és para-sempre.
ResponderEliminarBeijo, Querida.
❤️ tão bom que é ler-te*
ResponderEliminarE eu gosto muito que vocês gostem de me ler kkkkkkk
ResponderEliminar<3