quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Era uma vez...



Há uns meses decidi fazer umas arrumações. 
Abrem-se caixas, mergulha-se no passado, reavivam-se memórias. Encontrei dezenas de desenhos de moda que eu fiz nos anos de '93 e '94, tinha eu 16 anos. O gosto pela moda era um sonho de criança. Desde pequena que idealizava e vestia as minhas bonecas com os retalhos de tecido que a costureira vizinha me oferecia e a cartolina e os lápis de cor que serviam para fazer os chapéus, as carteiras e até os sapatos. A Barbie era a modelo, por excelência. A personificação da beleza, um ícone da moda. Com ela vivia-se no mundo do fairy tail fashion. Com a enorme gama de acessórios de estilo de vida, a Barbie existia (e existe) para consumir. Um consumo que as dificuldades económicas dos meus pais não suportavam, e que aguçaram a minha criatividade. Ao não poder ter os conjuntos de roupa e acessórios, comecei a idealizar e a fazer. Numa época em que as crianças tinham tempo para brincar, eram tardes e tardes em sonhos de haute couture. Peças feitas sob medidas, com padrões combinados na perfeição, e com os traços da irreverência que me caracterizava na altura. Altura essa em que não questionava, como faço agora, o impacto da "Barbie" nos padrões de beleza ou na normatização de estereótipos de género.
A adolescência afastou as bonecas, mas não o gosto pela moda, que passou a exprimir-se no papel, pelo desenho. Figurinos estilizados, que exprimiam os valores estéticos e os padrões de gosto de uma época. Nesses desenhos realizava-se o sonho de criança.
Hoje, ao olhar para esses desenhos descobertos numa caixa perdida no tempo, as questões impunham-se: Por que deixei de desenhar e de criar? (bem, talvez por não ter jeito, é uma hipótese!!) Onde ficou aquela minha irreverência criativa que a idade pareceu normatizar? Não me tornei estilista, nem segui os caminhos da moda, mas reencontrei essa irreverência na Sociologia, área na qual me formei; e redescobri a criatividade na dança. Da moda ficou apenas o gosto e a curiosidade, que foi aguçada, o ano passado, pela lecionação de uma disciplina de Sociologia do Consumo e da Moda num Curso de Design de Moda. Admito que sair da caixa foi uma experiência bem empolgante!!
Não, este não é um artigo sobre moda. É um artigo sobre sonhos e conquistas, que se foram ajustando ao crescimento, à maturidade e às perdas no caminho. Não sei se o final deste “Era uma vez...” termina “E foi feliz para sempre”. Mais importante do que o fim é o processo, os/as personagens, o enredo, os argumentos e os diálogos, que dão vida à história, e nos mostram que o final somos nós que o escrevemos, em sucessivas redescobertas e recriações.

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