quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Dia de fazer memória

No dia 1 de novembro fazemos memória e homenagem aos familiares e amigos/as que já faleceram. Todos os anos levo uma flor ou um ramo bem simples à campa dos meus avós... simples como sempre foram as suas vidas. Na passada lenta com que percorro o cemitério, observo o espaço, ornamentado de cores e de flores suficientes para homenagear todos aqueles que já morreram; sinto os cheiros das orquídeas, dos crisântemos, e da cera das velas; e vejo as pessoas (particularmente mulheres) a limpar as campas, a acender as velas e a rezar. Pessoas de semblante fechado, como se espera de quem visita um cemitério. Famílias que se reúnem, que se reencontram ou que se cruzam sem falar. Sentada na campa dos meus avós, no dia de celebrar a vida e a morte, fico com a sensação que se vive mais a tristeza da perda, do que a alegria de ter havido vida.
Todos/as temos os nossos mortos (reais ou simbólicos), e a grande questão parece estar na forma como nos relacionamos com tal realidade. A todos/os provoca dor, mas quando compreendemos que morrer é uma tarefa que se constrói vivendo, a morte ganha uma outra expressão: afina a nossa conduta, alerta-nos para a impermanência das coisas, resgata a experiência da (nossa) vida e permite-nos conviver com a morte não numa relação de luto constante [que deprime e que impede a vida], mas como forma de celebrar a Vida.

Neste espírito, todos os anos, neste mesmo dia, a família (paterna) se reúne, avivando a memória do meu avô, que vive em cada um de nós, e celebrando a vida da minha avó, elo unificador.

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