quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Crónicas de uma viagem à Índia: Varanasi, a cidade sagrada.

Foi a cidade que mais me marcou, e não é difícil perceber porquê!
O seu nome significa “Porta do Céu”. É um destino sagrado por ser o local que dá acesso à vida eterna. Ao ser escolhida por Shiva, deus da destruição, que ali viveu com a sua mulher, Parvati, Varanasi tornou-se a cidade do recomeço e do renascimento (os hindus acreditam na reencarnação e creem que o seu comportamento nesta vida determinará a sua próxima vida). Ser cremado em Varanasi e ver as suas cinzas atirada ao Ganges é o desejo de muitos indianos. Mas também não é para todos. Até na morte se evidenciam as fraturantes desigualdades sociais que marcam a Índia. O preço da cremação varia de acordo com a nobreza da madeira, e mesmo ser cremado em madeira não é para todos/as.
Respira-se religiosidade e misticismo em todos os cantos. Milhares de pessoas juntam-se nas ghats (que representam a ligação entre o terrestre e o divino), nas margens do rio Ganges, onde se banham, lavam as suas roupa, e bebem da sua água (imprópria para consumo) enquanto rezam e agradecem. Outros meditam. Nas ruelas transitam peregrinos, sadhus (homens santos) e sacerdotes hindus (brâmanes), que deixam as suas oferendas em pequenos altares. Tudo num cenário de muita cor, cânticos e cheiros intensos... que vão desde o cheiro a incenso aos cheiros dos esgotos que correm a céu aberto e dos animais, principalmente as vacas, que circulam livremente por todos os lugares. Uma Índia em estado bruto onde tudo é possível.
-->
Todos os dias, depois do pôr-do-sol, há uma cerimónia em homenagem ao rio Ganges, conhecida como ganga aarti. Uma cerimónia emotiva e impactante, pelo seu significado, mas admito que não tanto quanto assistir ao nascer do sol, num qualquer barco a remos que vagarosamente e em silêncio percorre o Ganges e nos permite uma experiência única na vida. Varanasi ficará para sempre bem pertinho do coração.

(publicado a 29 set. 2016)

1 comentário: