domingo, 29 de janeiro de 2017

Uma ‘rebeldia’ chamada viajar sozinha

✫Há cerca de um ano li a notícia sobre Marina Menegazzo e Maria José Coni, duas jovens argentinas que viajaram de férias para o Equador. Iam cheias de vontade de conhecer novas culturas e suas gentes. Foram mortas. Senti-me revoltada com a tragédia, e senti-me indignada com as perguntas e comentários: ‘Que roupas tinham vestidas quando foram abordadas pelos homens?’. ‘Viajavam sozinhas, estavam à espera do quê?’. De facto “o mundo continua a ser um lugar mais perigoso para as mulheres do que para os homens”. E a grande questão não reside no facto de uma mulher viajar sozinha, mas sim na forma como uma boa parte do mundo continua a olhar para as mulheres. Recentemente participei na Marcha das Mulheres, um protesto internacional contra todas as formas de opressão e exploração, porque a desigualdade tem sexo e geografias. De entre muitos gritos de ordem o meu foi também para o direito das mulheres poderem viajar sozinhas em segurança.
Viajar está no topo da (minha) lista das melhores coisas da vida. Até aí, tudo bem! A pergunta sucede: _com quem vais? E eu respondo:_vou sozinha! A partir daí começam os “ses”, as interrogações e os olhares. ‘Não tens medo?’, ‘E se és assaltada? E se...’, ‘Por que vai sozinha?’. Respondo: _vou sozinha porque quero e porque gosto. Claro que as perguntas são legítimas, pois todos/as sabemos que “o mundo continua a ser um lugar mais perigoso para as mulheres do que para os homens”. 
Comecei a viajar sozinha por força de circunstâncias profissionais. Hoje viajo sozinha sem circunstâncias. As primeiras vezes tive medo, hoje sou cautelosa e procuro viajar em segurança. Gosto imenso de viajar com amigos/as. Adoro viagens românticas. E comple(men)to-me quando viajo sozinha, pois cruzo as minhas fronteiras e isso obriga-me a estar comigo, a descobrir, a arriscar, a errar e a encontrar o caminho. Limpo a mente e a alma, preenchendo-as com sensações, situações, lugares e pessoas novas. Supero-me e experimento o que quero. Crio memórias, cheias de curiosidade. Trato das viagens by myself ... faço a mochila e vou. Admito que o peso da mochila carrega também a certeza que “o mundo continua a ser um lugar mais perigoso para as mulheres do que para os homens”. Mas se me perguntarem: _ por que vou? Eu respondo: _ por que não? E resistirei nesta pergunta, porque a resposta me conduz à Liberdade.✭

3 comentários:

  1. Infelizmente, qualquer coisa que uma mulher faça por vontade própria ou que vá ao desencontro do que é os parâmetros "normais" da sociedade continua a ser uma "rebeldia".
    Quanto ao viajar sozinha, nunca o fiz, mas acredita que só o facto de querer pegar no carro sozinha e ir, nem que seja fazer uma viagem rapidinha ao Algarve(quanto mais para estrangeiro!!!), cria preocupação aos outros .
    Mas fiz passeios (enquanto solteira), passeei muito e sem duvida que me souberam muito bem, foram verdadeiras "lavagens à alma" que guardo com carinho e saudade, as sensações e recordações que, de certa forma, ajudaram-me a descobrir uma calma e um diferente estado de espírito daquilo que tinha antes.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tenho óptimas memórias de viagens que fiz cá dentro, sozinha. Apesar de serem um pouco mais seguras, trazem sempre o role de preocupações acrescidas!! Concordo plenamente. Viajar sozinha permite-nos estar na nossa companhia. Não no sentido solitário da coisa,como se costuma colocar, mas no sentido de dialogarmos connosco. É importante ir, nem que seja até ao fim da rua ��
      Obrigada pela partilha.

      Eliminar
  2. Gosto muito deste blogue que encontrei por acaso hoje a propósito da exposição de Steve McCurry. Também escrevi uma entrada no meu blogue sobre ele. Tenho muito poucos blogues de que goste. Infelizmente já não faço viagens sozinhas, mas fiz algumas em jovem. Viajar liberta o espírito e faz-nos conhecer-nos melhor. Um Bom Ano!

    ResponderEliminar