O
dia acordou chuvoso, mas não há lugar para preguiça. Mapa da ilha na mão e
vontade no coração, segui viagem. Não há nada como falar com as pessoas locais
e, enquanto tomas o pequeno almoço, escutas sobre as belezas da terra, os
locais de visita obrigatória, os restaurantes que servem as melhoras lapas e
cracas, que cozinham o melhor peixe local – o boca negra -, ou a alcatra
regional. Achei melhor não partilhar que não como carne vermelha J
Dei a volta à ilha,
visitei os principais pontos turísticos (aqueles que a chuva me permitiu), comi
e bebi (d)o melhor, mas foram os recortes, as cores, as influências,
confluências e minudências da ilha que me deslumbraram... daquele deslumbramento que faz os olhos crescerem.
As
rotas onde a relva beija a estrada e o bosque constrói muros verdes que
serpenteiam os caminhos.
Os
lugares que deviam começar por “era uma vez” de tão mágicos que são, como a
mata da serreta ou a lagoa das patas, de cenários idílicos, com os seus bancos
a convidar ao repouso e à contemplação. Como não se render a uma área natural
protegida que se chama Mistérios Negros!
O
mar azul turquesa das piscinas naturais em Biscoitos, que dança por entre a
composição rochosa e escura de magma, que compõe o cenário balnear.
A
planície verde, de um verde pintado à mão, recortada de muros escuros e portões
coloridos, que fazem da paisagem uma manta de retalhos. Em cada recorte, vacas
confortavelmente acomodadas. Aqui, quem não caça com cão, caça com vaca J
A
religiosidade do seu povo expressa nos “Impérios do Espírito Santo” que estão
em qualquer rua ou cruzamento. A ilha conta com 71 Impérios identificados.
Estruturas pequenas, com uma fachada de diferentes tipo (molduras, janelas,
colunas e frisos), normalmente de cores vivas, e profusamente decorado, com
símbolos do Espírito Santo.
A
ilha Terceira é uma criação da natureza, até nas suas entranhas. De estrutura
geológica única, brinda-nos com o leito dos vulcões e com as brincadeiras da
lava. No Algar do Carvão esconde-se um cone vulcânico perfeito. Continua a
chover. Pingas grossas que caem do teto e que nos fazem olhar para cima, onde
vemos o grande círculo aberto ao céu, cheio de vegetação, num cenário de
arrepiar. Na Gruta de Natal caminhamos
num túnel lávico com 700 metros de comprimento. Irregular, imperfeito, (com)passado, como se quer a vida. É frio no interior da terra, mas é lá que
sentes o seu coração a bater... e tudo faz sentido.
O dia acordou chuvoso, mas terminou maravilhoso. A chuva fez-me andar devagar e o nevoeiro a trautear o caminho. Nestes momentos, a imaginação ganha largueza.
Sou
de viajar à la flâneur, gosto de andar sem rumo, “pelo meio”, conhecendo por
dentro aquilo que o local tem para me oferecer, que é sempre único. Nem sempre dá,
mas o espírito está lá. Foi assim que explorei a ilha, foi assim que conheci Angra do Heroísmo, mas isso
ficará para um próximo post.
Piscinas Naturais em Biscoitos
Mata da Serreta
Caminho para Porto Martins
Lagoa das Patas
Algar do Carvão e Gruta de Natal
Império do Espírito Santo, Praia da Vitória
Restaurante O Pescador, Praia da Vitória
Olá, Vera
ResponderEliminarUm texto magnífico, dos que nos fazem acreditar que ainda é possível, após tantas escritas, fazer poesia das palavras...
Beijo
João
Que bom que gostaste João. Obrigada pela tua partilha, que sei que é sempre sincera 😉
ResponderEliminarAcho que a natureza inspirou-me? Alias é impossível não se ficar inspirado. Um beijinho
É considerada por muitos a mais bonita, inclusive por mim. E, sem dúvida, a mais diversificada da ilha dos Açores, tive curiosidade de explorar este magnífico arquipélago em São Miguel, a principal ilha dos Açores. Não há um único visitante que não fique impressionado com a incrível miríade de diferentes tonalidades de verdes exibidas nas suas vastas paisagens,assim como com a abundância de cores que esta ilha tem para oferecer...
Obrigada pela partilha!
Obrigada Carla. Dos Açores foi a primeira ilha que visitei e, de facto, fiquei fascinada.
ResponderEliminarAgora é organizar-me para conhecer as outras :-) e, espero, escrever mais sobre este cantinho no mar plantado.
Não sei quem é a escritora mas colei-me ao "divino" texto que nos inunda o olhar e segue até à alma de ilhoa. Sou da ilha de Jesus Cristo, a ilha Terceira. Encantou-me saber que há, pelo menos, uma pessoa que desenha a escrita de tal forma que nos faz pasmar a imaginação (ou a visão) dos lugares tão característicos de um local de sonho e recordação. Bem haja!
ResponderEliminarRosa Silva