✫ Sento-me aqui, no lugar de sempre, bem perto da grande vitrine. Sim, é
uma vitrine e não um vidro, porque através dela observo as estações, as cores e
as pessoas “passarem”. Passa o tempo e o tempo passa por elas... e por mim. Há mais
de dez anos que frequento o mesmo café. Gosto dele pela manhã. O que faz de um espaço
ser tão especial que nos cria raízes, que nos faz dele?
É que ele já não é apenas um espaço, ele é um lugar... o lugar das coisas que são nossas, um lugar
de diálogos. De diálogos internos, dos
que valorizam o silencio e põem as coisas no lugar. De diálogos confidentes, dos que contam
segredos, e de diálogos sorridentes, daqueles que vêm com(o) presente. De diálogos
mudos, em que tudo é dito, e nada é falado. São os olhares que se encontram, os
cumprimentos afetuosos a pessoas que conhecemos há anos mas que não sabemos o
nome, o sorriso (com)sentido ao ouvir a conversa do lado, que é sempre a mesma,
a gargalhada coletiva quando se ouve o ladrar estridente do cão que todos já
conhecem, as grávidas que aparecem com os bebés, e os bebés que já são crianças. Ele já não é apenas
um café, ele é um lugar de partilhas, criador de identidade. E enquanto assim
for, continuarei a sentar-me aqui, no lugar de sempre, bem perto da vitrine, a
ver-me passar. ✭
Quantos cafés já foram o café... todos se perderam de mim, ou eu deles... e, no entanto, sempre nos vemos a passar...
ResponderEliminarBeijo
João