terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Um café com diálogos

✫ Sento-me aqui, no lugar de sempre, bem perto da grande vitrine. Sim, é uma vitrine e não um vidro, porque através dela observo as estações, as cores e as pessoas “passarem”. Passa o tempo e o tempo passa por elas... e por mim. Há mais de dez anos que frequento o mesmo café. Gosto dele pela manhã. O que faz de um espaço ser tão especial que nos cria raízes, que nos faz dele?
É que ele já não é apenas um espaço, ele é um lugar... o lugar das coisas que são nossas, um lugar de diálogos. De diálogos  internos, dos que valorizam o silencio e põem as coisas no lugar. De diálogos confidentes, dos que contam segredos, e de diálogos sorridentes, daqueles que vêm com(o) presente. De diálogos mudos, em que tudo é dito, e nada é falado. São os olhares que se encontram, os cumprimentos afetuosos a pessoas que conhecemos há anos mas que não sabemos o nome, o sorriso (com)sentido ao ouvir a conversa do lado, que é sempre a mesma, a gargalhada coletiva quando se ouve o ladrar estridente do cão que todos já conhecem, as grávidas que aparecem com os bebés, e os bebés que já são crianças. Ele já não é apenas um café, ele é um lugar de partilhas, criador de identidade. E enquanto assim for, continuarei a sentar-me aqui, no lugar de sempre, bem perto da vitrine, a ver-me passar. ✭

1 comentário:

  1. Quantos cafés já foram o café... todos se perderam de mim, ou eu deles... e, no entanto, sempre nos vemos a passar...
    Beijo
    João

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