terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Angra do Heroísmo: uma janela do mundo

Estátua de Vasco da Gama, Pátio da Alfândega


“Valeu a pena? Tudo vale a pena quando a alma não é pequena!” (Fernando Pessoa). Frase que está gravada no chão, no Pátio da Alfândega, onde a estátua de Vasco da Gama pisa o chão de forma destemida. Quando conhecemos Angra percebemos que não podia ser de outra forma... e por isso ter sido classificada pela UNESCO como Património Mundial, pelo seu valor arquitectónico, histórico e cultural inigualável, com influências que vêm desde os descobrimentos. D. Maria II acrescentaria, pelo heroísmo das suas gentes, razão pela qual chamou à cidade Angra do Heroísmo.

Imaginemo-nos Vasco da Gama, no Pátio da Alfândega, a caminhar por séculos de uma gloriosa história que se ergue entre a brisa do mar Atlântico, que lhe bate nas costas, e o verde da montanha que desenha a vista e lhe serena o coração. Na sua passada larga e segura, percorre as ruas estreitas e reticuladas, de calçada tradicional, embelezadas por casas caiadas de branco, portadas pintadas de cores fortes, janelas adornadas e varandas de ferro talhado. Subitamente olha para trás, não por temer alguma coisa, mas porque o Monte Brasil é bonito demais para lhe ser indiferente. Hoje um Parque Florestal da cidade, que tem uma das maiores fortificações atlânticas que se conhece. Angra presta-se à descoberta sem rumo e sem pressas... à boa maneira de Vasco da Gama. Mas até ele se surpreende com a beleza dos palácios, conventos, fortificações, ermidas, capelas e igrejas, que expressam, na sua arquitetura e talha, o abandono dos modelos de construir medievais em prol do que de novo trazia a Renascença e os Descobrimentos. Ao visitar o Museu de Angra do Heroísmo, instalado no Convento de S. Francisco, e ao subir as escadas gastas pelo tempo, percebe como a Ilha Terceira respira cultura de todos os povos. Uma viagem no tempo, entre o mar e a terra, de uma janela aberta para o mundo. Como não se comover.
Na sua passada larga e segura chega à Praça Velha, a partir da qual as artérias da cidade se espandem e se organizam. A Praça segreda-lhe que o descanso se faz no Jardim Duque da Terceira, onde as flores ‘brotam’ no inverno, os pássaros esperam sempre pela primavera e as plantas exóticas evocam a história; e que o deslumbramento faz-se no Alto da Memória a D. Pedro IV, que nos brinda com um verdadeiro cartão postal de Angra. Jardim e Memória estão interligados por patamares em declive, com caminhos desenhados a pedra de basalto, intervalados com pequenos lagos e fontes. Lá do alto, onde o silêncio se impõe, séculos de história ganham sentido. Afinal, só as escadas é que estão gastas pelo tempo.
Na sua passada larga e segura, regressa ao Pátio da Alfândega, e responde: Valeu a pena!


Ruas, portadas e janelas em Angra do Heroísmo

Museu de Angra do Heroísmo

Igreja da Misericórdia, Pátio da Alfândega. Virada para o mar

Quadro exposto na Sé Catedral.
Para mim representando os mártires e injustiçados 
do nosso tempo

Jardim Duque da Terceira
Alto da Memória a D. Pedro IV

Vista sobre Angra do Heroísmo, do Alto da Memória a D. Pedro IV

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