✫Adoro ver as mulheres usando as suas capulanas*, de padrões
variados e cores vivas. Elas (as capulanas) falam, numa linguagem simbólica e
silenciosa, a história de um povo, além das inúmeras histórias que têm para
contar. Nelas reconheço as minhas raízes africanas, que carrego no corpo e na
alma com orgulho. A partir delas explico esta minha ligação com África, numa
espécie de enamoramento, que me compele a fazer regressos infinitos. Regressos
que costuro nas viagens que fiz, na literatura que leio, na música que oiço, ou
nos objetos de decoração que alindam a minha casa. Regressos presentes nas
subtilezas das cores (do pôr-do-sol) que me definem, no fascínio pelo cheiro da
terra seca quando caem as primeiras chuvas, ou pelo consolo do pé descalço que
sente o chão. Sou do calor, do mar e do sol. Regressos simbólicos, pela ‘capulana’
da minha mãe e da minha avó que dão vida às histórias de infância e recriam um
passado que não se querendo presente vai recortando o futuro. Regressos pela
dança, sempre, como uma espécie de poema que habita a alma e que nos (re)conecta
à nossa essência.
Perceber as nossas raízes é mergulhar em nós e conhecer esses
eus de que somos feitos. É remendar e recolorir a ‘capulana’ que um dia
vesti(rei), cheia de histórias, (im)permanências e pertenças. É aceitar que não
há asas sem raízes. "Abensonhado" conhecimento que te “faz parir de ti
próprio” ✭
* As capulanas são tecidos de algodão, estampados
com padrões e cores vivas, usadas principalmente pela mulher africana. São
originárias de Moçambique.
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