O mistério em torno do exército de
soldados de terracota sempre me fascinou. Aliás, um mistério que se estende a
todo o Oriente, e que nós, ocidentais, tanto subestimamos desde tempos idos. Mas
isso é outra história!
Os guerreiros de terracota de Xian são quase tão visitados como a
muralha da China. Descobertos por acaso em 1974, por dois camponeses, o
exército torna-se um dos maiores achados arqueológicos do século XX. Constituem uma forma
de arte funerária, enterrada com o imperador Qin - leia-se ‘Chin', o primeiro imperador e unificador do império chinês (259
a.C-210 a.C.), e cuja finalidade era protegê-lo na sua vida após a morte.
Se é lá, em Xian, que estão os verdadeiros cerca de 7000
combatentes do exército imperial, é possível visitar algumas réplicas dos guerreiros, em Portugal. Comprados por Joe
Berardo, as peças foram pintadas com as cores originais
das armaduras, dos uniformes, e dos rostos dos guerreiros, e
disponibilizadas, para visita, no Buddha Éden, Quinta dos Loridos, situada nos
arredores do Bombarral. Corri a visitar e fiquei fascinada. Lá estavam eles,
imponentes!
Regressei
uns anos mais tarde e encontrei o exército todo pintado de azul. Explicaram-nos
que as peças estavam a ser restauradas porque os/as visitantes as tinham
danificado. Cinco minutos de
decepção rapidamente foram ultrapassados por séculos de história. Lá estavam
eles, azuis... mas continuavam imponentes! De longe, aquele corpo maciço,
revelava uma história com mais de dois mil anos. A história de um imperador megalómano, tirano e impiedoso, mas visionário. Qin unificou a
China por força de um exército poderosíssimo, com armas e estratégias militares
extremamente avançadas, e de um sistema legal, político e administrativo à
frente do seu tempo. Avanços tecnológicos que o ocidente reclama para si
muitos séculos depois. E lá continuamos nós (ocidentais) a construir
“históricas únicas” sobre o Outro.
Adentrei
a história do exército de soldados de terracota, numa visita que fiz à exposição Terracotta Army - Guerreiros de Xian que, neste
momento, está na Cordoaria Nacional, em Lisboa, e que pode ser visitado até dia 10
de setembro de 2017. Antes da visita começar, assistimos a um documentário
sobre a história e a descoberta do Exército. Importante para
o que se segue, pois torna-nos muito mais atentos/as aos pormenores. Aqui já
não era o corpo maciço que se destacava, mas as figuras, uma a uma. Figuras de tamanho real, que variam em peso, indumentária
e penteado, de acordo com a patente. Impressionante. Até os fios dos cabelos e
as solas dos sapatos são meticulosamente desenhadas. Dezenas de expressões
faciais diferentes que recriam a época. Dizem que nenhum guerreiro é igual ao
outro. Impossível ficar-lhes indiferente. Os cavalos e as carroças,
perfeitamente alinhados. A cor, argilosa, marca a cadência do tempo, feita
ainda de muitos silêncios, lendas e crenças.
Mas... lá estão eles, imponentes! Assim é o exército
de soldados de terracota.
2011 - Visita ao Buddha Éden, Bombarral |
2016 - Visita ao Buddha Éden, Bombarral |
2017 - Exposição Terracotta Army - Guerreiros de Xian, Cordoaria Nacional, em Lisboa |
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