Decidi começar a explorar trilhos de
natureza. Daqueles que se fazem sem pressas e que a única coisa que nos pedem é
que gostemos deles. Há uma imensidão de propostas e sítio fantásticos para
conhecer. Mas por onde começar? A escolha foi vizinha, o Parque Nacional
Peneda-Gerês*. Sim, eu sei o que estão a pensar J O Gerês é “um mundo”... mas quem é que
tem pressa?
Dizer que a beleza do Parque Nacional
Peneda-Gerês é inigualável tornou-se já um lugar comum. Não há quem o visite
que não fique fã das suas paisagens. A natureza no seu esplendor. E por esse
motivo, o Gerês só se pode conhecer por dentro. A sua alma está no som da água
que sai das entranhas das montanhas e forma cascatas e piscinas naturais, de
água translúcida. Rios, ribeiros e pequenos cursos de água que alimentam o
verde da paisagem, que atiçam o espírito de descoberta e aventura dos mais
audazes e que permitem verdadeiros deleites visuais. O seu coração está nos
batimentos de vida da sua fauna e flora, imensamente diversa, algumas raras, de
valor ecológico e etnográfico ímpar. A sua história está nas pequenas aldeias que mantêm raízes firmes na
tradição rural portuguesa e nos monumentos megalíticos e de ocupação romana
(mosteiros, santuários, pontes, calçadas, caminhos, marcos...) que embelezam o
cenário.
Por
onde começar? A pergunta voltava a impor-se. Afinal o Gerês é “um mundo”! Não
faltam sugestões de trilhos, caminhos e caminhadas. Há para todos os gostos e
graus de dificuldade. Com a companhia certa percebes que os trilhos se
constroem à tua medida e que, por vezes, quando sais do(s) trilho(s), és
surpreendido/a com o melhor... a melhor das paisagem, a melhor das conversas, o
melhor dos petiscos ou o melhor dos cansaços, aquele que te faz sentir vivo/a.
Mochila nas costas, calçado confortável e
adequado, fato de banho e roupa leve, água fresca e alguma comida... e
fizemo-nos à estrada. O dia começou bem cedo e levou-nos à tão conhecida
cascata Tahiti, que tanto turismo atrai, à inusitada Cascata Cela Cavalos e à
tradicional zona de Pitões das Júnias. Em cada local os caminhos fazem-se a pé
e pedem permanências. Afinal, quem é que tem pressa?
|
Cascata Tahiti, Ermida, Gerês |
A cascata Tahiti (Fecha de Barjas)
é acessível apenas por caminhos pedestres, um tanto sinuosos, o que aumenta a
dificuldade no acesso ao local. Mas chegados lá, somos surpreendidos/as pela
sua beleza e pela serenidade das águas que beijam as rochas. Não se pode perder
o mergulho. As águas são cristalinas e relativamente quentes, olhando ao
contexto J
|
Cascata Tahiti, Ermida, Gerês |
|
Cascata Cela Cavalos, Gerês |
Continuamos viagem em direção à Cascata Cela Cavalos. Uma cascata
menos movimentada, talvez pelos seus acessos. Estacionado o carro, numa pequena
aldeia (Lapela), precisamos de andar mais de meia hora, por caminhos bastante
irregulares, mas parte desse caminho é feito com uma vista espetacular sobre o
vale e o rio (cávado). A meio, começamos a ouvir o som da água... não se
percebe bem de onde vem, mas vai-se tornando mais intenso. E lá está ela! As
águas são muito frias, é uma verdade, mas não há como lhe negar um mergulho e
descansar sobre as suas gigantescas rochas, que amparam as pequenas lagoas que
a queda de água cria.
|
Cascata de Pitões das Júnias, Gerês
|
Mais a norte, Pitões das Júnias, uma das aldeias mais visitadas do
concelho de Montalegre. Tem percursos pedestres riquíssimos, uma cascata que
reflete o verdadeiro espírito da montanha, e um mosteiro – Mosteiro de Santa
Maria das Júnias – erguido no século XII, de estilo Românico e Gótico, que é
monumento nacional desde 1950.
-->
Chegamos lá a meio da tarde, a fome apertava, e por isso a paragem
fez-se no Restaurante Casa do Preto (http://www.casadopreto.com/),
onde comemos uma sopa bem caseira, acompanhada de pão e uma tábua de queijo e
presunto locais. Mas foi a conversa prazerosa com a dona do restaurante que
animou a paragem. Visitamos o Mosteiro, mas a surpresa fez-se na cascata. Sem
trilho de acesso, lá começamos a descer e a explorar caminhos. Descemos mais um
pouco. A vegetação é densa e frondosa, o declive acentuado, mas a descida
faz-se em segurança. De repente, os olhos cruzam-se com pequenas piscinas
naturais, incrustadas na montanha desnivelada, e viradas para as encostas de
outras e tantas montanhas que desenham uma paisagem do local. Ali, o silêncio
perfeito da natureza. Ali, sentes-te parte dela. Naquele momento, sentes-te
“just a lost boy, not ready to be found”, como diz a letra de
uma música.
|
Fachada do Mosteiro Pitões das Júnias, Gerês |
|
Lateral do Mosteiro Pitões das Júnias, Gerês |
|
Uma das pequenas piscinas naturais da cascata de Pitões das Júnias, Gerês |
O regresso fez-se ao entardecer. O
pôr-do-sol acompanha-nos e a sua luz bate nos vidros do carro. O cansaço afirmar-se,
mas as palavras que se dizem são: venha o próximo!
*
Situa-se no extremo noroeste de Portugal, na zona raiana entre Minho,
Trás-os-Montes e a Galiza