segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Ponte de Lima: a tradição que mora aqui ao lado


Era Setembro, o dia pedia passeio. Fomos até Ponte de Lima. Um miminho à beira rio plantado, cheia de lendas, tradições, festividades e curiosidades históricas. Por vezes é bom demorarmo-nos nos sítios que pensamos conhecer.
Respeite o horário... "também temos vida"... lia-se no letreiro à entrada de um restaurante, bem na rua principal, virada para o rio. Dei uma gargalhada, afinal Ponte de Lima é assim, uma vila cheia de "temperamento". Não sou da terra, por isso não me atrevo a dizer: "o que visitar". Conto o que me fascinou.
Marque encontro no centro da vila. 
Passear pelas ruas do centro histórico é obrigatório. É pequeno, mas cheio de (re)cantos... a capela, a mercearia de bairro, a farmácia pintada de 'antigamente', o tasco bem 'coradinho', ou a fonte que parece um bolo de noivos. Como diz Teófilo Braga: "A terra onde eu nasci, terra de encanto; Cheia de graça, ó cheia de beleza; Deixa afirmar nas vozes do meu canto; Que és a mais linda terra portuguesa". A esta beleza, "que não se pinta", junta-se a Torre da Cadeia Velha, adaptada a prisão no século XVI, na altura de D. Manuel I. Na sua janela de grades, as pombas dão asas de liberdade. As ruas estreitas e empedradas pedem descanso nos bancos vermelhos no Largo de Camões, mesmo junto à Igreja Matriz. Aqui, ninguém fica indiferente ao touro de bronze, em tamanho real. Um tanto polémico, para alguns, mas representando uma das grandes festividades da terra, a "Vaca das Cordas". Uma tradição que data de 1646, e que tem lugar na véspera da festa do Corpo de Deus. 



Ponte de Lima tem força de lenda. 
E por isso a caminhada deve estender-se até à ponte que une as duas margens do rio Lima. Chamada de “Ponte Velha” marca a paisagem da vila, como elemento arquitetónico por excelência. Quando a passas, hesitas! Lembras-te da lenda do rio Lethes. Será mesmo o Rio do Esquecimento? Nessa hesitação exploras esta margem do rio. Não ficas indiferente à Igreja de Santo António da Torre Velha e à curiosa Capela do Anjo da Guarda, que protege a vila e os peregrinos que lá passam a caminho de Santiago de Compostela. Não fosse Ponte de Lima parte da Rota do Caminho Português para Santiago.
Passamos a ponte. Ao longe, a estátua do General em cima do cavalo. Nome por nome, parece que o ouvimos a chamar pelos seus soldados, ainda hesitantes na outra margem. Rio do Esquecimento? Não, só se for Rio da Lembrança. Uma "lembrança viva desta terra amorável".
Do outro lado, percorre-se parte da Ecovia do Rio Lima que nos levou ao "Jardim das Descobertas" (http://www.festivaldejardins.cm-pontedelima.pt/)Doze pequenos jardins, provenientes de diversos países, promovem os sentidos e a imaginação. Visite, passeie-se por lá, bem devagar, que não irá arrepender-se!






O regresso fez-se "pela boca" e saboreamos o arroz de sarrabulho, acompanhado de um vinho verde loureiro, adega de Ponte de Lima. Não há como perguntar aos da terra onde se come melhor! Pelos vistos o Restaurante Manuel Padeiro é um deles. Mas é também nas descobertas que somos surpreendidos/as. Foi o que aconteceu na Casa da Terra (http://www.casadaterra.pt/). Bebemos uma cerveja artesanal, enquanto nos perdíamos pelo espaço. Pequeno, mas acolhedor. Cheio de surpresas... do conceito, ao artesanato, passando pela decoração do espaço, cheia de curiosidades e histórias passadas com cheiro a modernidade. A divulgação e promoção dos produtos do Concelho de Ponte de Lima é levado a sério... até na casa-de-banho :-) não conto mais nada, têm de ir lá para ver!!
A tarde passou em passo de corrida, mas foi com um pezinho de dança que deixamos a vila, entre olhares esquinados e risos de consentimento. Afinal, o espírito festivo das Feiras Novas* ainda estava lá, nas animações sobrantes que decoravam as ruas e nas músicas populares que recordavam os transeuntes que o tempo era de alegria e festa.




*Celebradas desde 1826, é considerada o "maior congresso ao vivo da cultura popular em Portugal". 

Fotos: Vera Duarte e Marcelo Andrade

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