Eu e viagens de barco não temos uma relação
muito simpática, razão que me fez ir adiando fazer a travessia para as
Berlengas. No verão passado decidi ir com umas amigas.
A viagem de barco correu bem? Não. O Cabo
Carvoeiro de repente transformou-se no Cabo das Tormentas J No mar agitado o barco balançava com toda
a força (poupo-vos pormenores!).
Valeu a pena? Sem dúvida. As Berlengas são
tudo aquilo que descrevem, e muito mais. Uma Reserva Natural no seu estado mais
selvagem. É tão especial nas suas
características naturais que se permite a ter espécies (de fauna e de
flora) que não existem em mais nenhum outro lugar, o que lhe valeu, em
2011, o título de Reserva Mundial da Biosfera da UNESCO. Por isso, de dezembro a março a Ilha é apenas habitada pelos faroleiros e vigilantes da natureza, e na
época balnear o acesso à ilha é controlado e condicionado, em número de pessoas
e tempo de permanência. Não tive a experiência de pernoitar na ilha (no parque
de campismo ou na pousada) mas, por aquilo que vi, acho que deve ser uma
experiência única de insularidade.
Como tudo em Portugal, o arquipélago das
Berlengas (constituído por três ilhas, Berlenga
Grande, Estelas e Farilhões) é feita de história, e das antigas. A ilha
da Berlenga Grande, apesar do nome, é pequena e faz-se a pé por um trilho de
observação já traçado que circunda boa parte da ilha. “Keep on the marked
trail”, diz a tabuleta. Do cimo podemos
admirar o Farol Duque de Bragança (1841) e descendo os muitos degraus entramos
no Forte de São João Baptista (1655). De acessos rudes, o Forte é sólido,
espartano e olha-nos de esguelha. Percebe-se que assim seja, não tivesse sido
ele construído para defender o território dos constantes assaltos de
piratas e corsários marroquinos, argelinos, turcos, ingleses, franceses ou
espanhóis. Hoje, restaurado e aberto ao turismo, acolhe a Associação dos Amigos
das Berlengas. E com isso, o seu ar de durão rende-se à gargalhada barullhenta
dos/as jovens que correm pelas suas muralhas, espreitam pelas suas janelas e
atiram-se à água das escadarias de acesso. Tão corajosos/as quanto ele, pensa!
Do Forte saem pequenas
embarcações (barco, outra vez!!) com fundo de vidro, que nos permitem
perceber a policromia da fauna marítima. Um passeio obrigatório. Contornando o
rendilhado das falésias, levam-nos a passear por grutas que apelam à nossa
imaginação, enquanto ouvimos um pouco das histórias da ilha. A transparência
das águas é indescritível e o silêncio que se faz sentir é interrompido pelo
barulho ensurdecedor das gaivotas e das várias espécies de aves marinhas e não
marinhas que povoam as ilhas. Afinal somos suas convidadas.
No fim, a pequena praia do Carreiro do
Mosteiro. Com cerca de 40 metros de comprimento, o seu areal faz esforço para
acolher todas as pessoas. Foi lá que terminámos o nosso passeio e esperamos
pelo barco para retornar ao porto de Peniche. Mas admito que a cor cristalina
daquelas águas, de diferentes tons de azul, tinha-me arrebatado já no momento
de chegada. Pensei... como é possível uma beleza assim!! Bem, isso foi até por
o pé na água! J Mas
não desistimos... entramos e mergulhamos... e sentimo-nos parte daquela
natureza. É nestes momentos e lugares que
percebes que "quem só acredita no visível tem um mundo muito pequeno".
O sol começa a esconder-se cedo por detrás
dos rochedos, pouco depois das 17h00 a praia fica à sombra... está na hora de
regressar. O regresso fez-se tranquilo, a favor da ondulação, e o sol, já
bem baixinho, despediu-se de nós. E assim, ao virar da esquina, temos um
paraíso chamado Berlengas!
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