Pedra da Gávea, Rio de Janeiro Foto retirada da internet |
Devem
estar a pensar... mas não seria mais interessante falar no Corcovado, com o seu
Cristo Redentor, que recorta os céus com a sua imagem imponente e memorável,
sempre de braços abertos olhando por todos/as! Ou falar no Pão-de-Açucar e do
seu ‘bondinho’ que, desde 1912, dá asas a quem o
quer visitar, permitindo observar uma das
paisagens mais belas do mundo! Ou até falar no Morro Dois Irmãos, que se
avista da praia de Ipanema, e que enquadra pores-do-sol inesquecíveis. Sim, talvez
fosse mais interessante... mas a verdade é que nem sempre nos apaixonamos pelo
mais belo, mas pelo que instiga a nossa curiosidade. Foi o caso. E é sobre
sentires que eu escrevo.
Suponho
que a Pedra da Gávea tenha tido maior impacto em mim por me ter sido
“apresentada” durante a visita que fiz à favela da Rocinha. Naquele momento os
sentimentos eram antinómicos. Ao mesmo tempo que a Rocinha era uma janela
aberta, com vista privilegiada, sob a Pedra da Gávea, estimulando deslumbramentos,
ela obrigava ao confronto com as disparidades e as desigualdades sociais que
compõem a favela, a maior favela da América Latina. Os sentimentos continuavam
contraditórios, pois foi deste local, aparentemente feito de feiuras, que vi, ouvi
e me fascinei pelas histórias, pelos mitos e pelas lendas da Pedra da Gávea.
O
entusiasmo das narrativas de César, um morador da Rocinha que nos acolheu em
sua casa, transformou o Morro da Gávea num palco repleto de arrebatamentos e
confabulações. A Pedra da Gávea olha-nos nos olhos, e fá-lo através da imagem
de uma cara esculpida na rocha, cuja origem é muito controversa e debatida. A
esta imagem, marcante, juntam-se lendas e contos. Umas sobre as inscrições na
rocha, numa linguagem muito antiga, que muito acreditam ter origens
sobrenaturais. Outras falam sobre grutas com cavernas longas que atravessam a
Pedra da Gávea de “orelha a orelha”, ou até sobre a existência de um “portal”, que dizem ser
a entrada para um mundo subterrâneo. Outras estórias, ainda, falam das trilhas,
dificílimas, que mais parecem saídas do filme Salteadores da Arca Perdida, e que têm instigado lendas de maldição
que são colocada sobre aqueles/as que ousam violar a tumba de um Rei Fenício,
que terá passado por terras brasileiras em 856 a.c.
Histórias e mais estórias se constroem sobre a Pedra da Gávea.
Não sei se são verdadeiras ou não, talvez isso nem seja o mais importante. O
que sei é que a fixei, e senti o pulsar das suas entranhas. E daquela
varanda, na favela de Rocinha, como marinheiro na Gávea, tive vontade de gritar
“Terra à Vista”.
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