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Lagoa do Fogo |
Prometo voltar!
Começo esta crónica pelo fim.
Dás a volta a ilha, vais aos pontos turísticos e
regressas com a sensação de que tanto ficou por ver. Três grandes motivos
convergiram para esta sensação. Um foi o tempo de estadia. Se queres fazer uma
escapadinha de dois ou três dias não vás para S. Miguel. A ilha é tão generosa
em beleza e segredos que te vai pedir que lhe dediques tempo. Outro motivo, que
condiciona o primeiro, é a volubilidade meteorológica, não fosse a ilha de São
Miguel conhecida por conseguir ter as quatro estações no mesmo dia. O melhor
dos planos é não fazer planos, e deixar que o lugar nos leve! O terceiro
motivo, mais emocional, foi a pouca permanência nos lugares, aquele tempo que
precisas para te permitires ouvir o que a terra, o mar e o vento te
confidenciam.
Por isso, prometo voltar! Para rever o que vi,
ver o que não vi, recriar o que vivi e prolongar-me, com tempo, no que a falta
de tempo não me permitiu sentir.
O que dizer sobre os Açores que não seja
repetitivo? Acho que gastei parte dos adjetivos quando escrevi sobre a Ilha
Terceira e a cidade de Angra do Heroísmo.
Nas suas 50 shadows of green, a ilha de São Miguel é atrevida e
sensual. Em cada curva faz-nos suster a respiração e em cada recanto suspirar.
A natureza no expoente da
perfeição. É o que sentimos quando percorremos as Lagoas (Empadadas, das Sete
Cidades, das Furnas, do Fogo). É o que experienciamos quando furamos a
vegetação mais densa ou passeamos nos jardins botânicos, como o do Parque de
Terra Nostra ou a Mata Jardim José do Canto nas Furnas, que são verdadeiras
criações de amor. É o que se revela quando passamos pelos Miradouros, todos
eles, cada um à sua maneira, com vistas únicas e seus parques de merendas
impecavelmente arquitetados. Não posso deixar de destacar o Miradouro da Ponta
do Sossego. Aquele que ficou bem pertinho da alma. De freguesia em freguesia, o
passeio faz-se por uma espécie de pequenos presépios, culturalmente
emoldurados. Os espaços públicos parecem jardins privados e as bermas da
estrada parecem canteiros tratados. Até os rails na estrada estão revestidos a madeira
para não destoarem da paisagem.
Pela origem vulcânica, que se expressa nas
formações geológicas da ilha, São Miguel mostra a sua impetuosidade e expele a
sua fogosidade. Diria até que ferve em pouca água, literalmente :-). Das fumarolas das Furnas às águas termais (do Parque
Terra Nostra, da Poça da Dona Beija ou da Caldeira Velha), passando pelas
caldeiras aquecidas por magma vulcânico que formam jacuzzis e piscinas
naturais, como na Ponta da Ferraria, a
ilha mostra ter “pêlo na venta”. A cor castanha das águas termais, por serem
ricas em ferro, o vapor e cheiro a enxofre que dominam o ambiente de algumas
localidade e a água a borbulhar da terra pintam uma paisagem invulgar. Não há
como não provar a água que brota das fontes, naturalmente gaseificada, horrível
de sabor. Reza a história que cura a ressaca, pudera!! :-)
Na pronúncia do seu povo (sotaque micaelense), a
ilha de São Miguel conta a história das influências portuguesas (do sul do
país) e francesas no povoamento da ilha. Um verdadeiro património. Falar com as
pessoas locais é imperativo. Nem sempre é fácil compreender, mas a experiência
é singular. Para as outras ilhas, eles são os “japoneses”, não há quem os
entende J É o “u” que vira “ü”.
Nos ditongos oi, ou e ei, omite-se a última vogal. O “e” que passa a ser “a”. O
“você” que é substituído pelo “senhor/a”. Pelas suas gentes conhecemos o menos
turístico, ouvimos as histórias de outros tempos e percebemos que o que são
cenários idílicos para o/a turista são também preocupações, com histórias de
perda, para a sua população. A Erupção dos Capelinhos, no Faial, no final da
década de 50. O terramoto nas ilhas Terceira, São Jorge e Graciosa, em 1980, as
crises sísmicas, os furacões, as inundações e os deslizamentos de terras. O arquipélago dos Açores tem uma grande atividade
sísmica de natureza tectónica a que se junta ter ilhas vulcanicamente ativas,
como é o caso de São Miguel, que tem três vulcões ativos - Sete Cidades, Furnas
e Fogo.
Pela gastronomia, a ilha leva o mar e o prado
para o prato. O peixe e o marisco são abundantes. Deliciei-me com uma barriga
de atum como nunca tinha comido. Dizem que o cozido das furnas é maravilhoso.
Cozinhado debaixo do solo, nas caldeiras das furnas, só lhe vi o aspeto, mas
fiquei com água na boca. O bolo lêvedo é um cartão de visita imperdível. Fica
bem com tudo. Mel, queijo, doce de maracujá, doce de ananás... venha a
imaginação! Para quem for guloso, as trufas e as queijadas... a cereja em cima
do bolo! Para beber... aí é melhor sentar um pouco. Do bom vinho regional, como
o Frei Gigante, aos licores A Mulher de Capote, passando pela Kima e pelo chá
Gorreana, encontramos o sabor dos Açores numa garrafa ou na selagem de pacotes
de chá coloridos.
Através das Portas da Cidade, em Ponta Delgada, a
ilha de São Miguel convida-nos a entrar e a visitar. A partir daqui,
constroem-se séculos de história, que se dispersa pela ilha, que se entalha nas
paredes dos monumentos e se reescreve sempre que alguém anda pelas suas
ruas, ruelas e trilhos.
Prometo voltar! Porque me apaixonei pelo lugar
que junta terra, mar, lagos, montanhas, crateras, vulcões, vegetação... e
muitas estórias!
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Lagoa Empadadas |
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Lagoa Azul, Sete Cidades |
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Lagoa Verde, Sete Cidades |
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Lagoa das Furmas |
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Mata Jardim José do Canto, Furmas |
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Caldeiras da Lagoa das Furnas |
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Caldeiras da Lagoa das Furmas, onde se faz o Cozido das Furmas |
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Ponta da Ferraria, Ginetes |
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Parque Terra Nostra. Piscina de águas termais |
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Parque Terra Nostra. Jardim Botânico |
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Parque Terra Nostra. Jardim Botânico |
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Miradouro da Ponta do Sossego |
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Miradouro da Ponta do Sossego |
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Parque de Merendas da Ponta do Sossego |
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Fábrica do chá Gorreana. Campos de chá |
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Chá Gorreana |
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Portas da Cidade, Ponta Delgada |
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