terça-feira, 29 de julho de 2008

Viver Leve, Leve...

" A pista é curta e o aeroporto por onde se passeiam pessoas e animais tem pouco que ver com a realidade europeia. Mas mais indícios anunciam um mundo novo. O calor húmido. A pilha de malas e caixotes. A nostalgia impressa nos cartazes e na arquitectura do edifício. E o olhar doce das pessoas que vieram ao aeroporto, não para receber um familiar mas tão-só para ver os recém-chegados (...). Tudo nos dá a sensação de estar a aterrar nos anos 70, num país onde a chegada de um avião ainda é um acontecimento.E assim nos sentimos durante algum tempo. Como um acontecimento. Que atrai os rapazes vendedores de colares e aspirantes a guias turísticos, os cambistas de rua e as crianças que correm a toda a hora à nossa volta, pedindo “doce, doce”... Vivem-se as primeiras impressões, entre o impacto de tanta beleza concentrada num pedaço de terra tão pequeno (...) e o constrangimento de assistir a carências primárias injustificáveis. O estranho é que a pouco e pouco perdemos essa importância e, se nos permitirmos a felicidade, tornamo-nos personagens deste registo cinematográfico neo-realista.
O segredo é entrar no ritmo “leve, leve” dos são-tomenses, como eles próprios o definem. Um povo com uma candura desarmante e uma forma de estar que nos induz (e seduz) calma, tranquilidade e também uma total falta de pressa. Há quem diga que é apenas a força das paragens tropicais que tudo anestesia e nos impele a respirar de outra forma e com mais prazer. Aqui sabe bem viver um dia atrás do outro, deixar o tempo passar e perder a noção dele. É assim que vivemos os restantes dias, entre um passeio na cidade, as memórias das roças, um mergulho no mar à sombra de uma árvore-carroceiro e uma pausa para deixar passar a chuva tropical e sentir o cheiro a terra molhada." (Rotas e Destinos, Junho de 2008 - http://www.rotas.xl.pt/0608/700.shtml)

Lugares e Instantes - Bernardino Silva

12 de Junho de 2008 FNAC
Apresentação do livro

Foi com enorme gosto que apresentei, no dia 12 de Junho, o livro “Lugares e Instantes” de Bernardino Silva. Uma colectânea de fotografias e imagens que, como descreve António Guterres, no prefácio deste livro “é o resultado das duas paixões do autor: a descoberta de novas culturas e o esforço, sem medida, no sentido de superar barreiras culturais e ajudar o próximo”...


São as suas existências, experiências e olhares que estão reflectidos neste livro... feito por alguém que procura contar-nos uma história. Não a história dos países que são registados pela sua camara fotográfica, mas experiências quotidianas e humanas marcadas:
» pela pobreza extrema, pela doença,
pela violência ou "apenas" pelo subdesenvolvimento;
» pela esperança que se exprime no sorriso das crianças e se imprime na sua inocência;
» pelas histórias de solidariedade e de boas práticas que encontarmos nos projectos de cooperação para o desenvolvimento, de ajuda humanitária ou pelo trabalho desenvolvido pelas missoes da igreja, que estão sediadas nessas terras;

» pela força dos movimentos sociais por um mundo melhor (Foruns sociais mundiais)...

E por tudo isto há duas coisas fantásticas neste livro, que não posso deixar de referir:

As fotografias, que mesmo retratando contextos de pobreza e crise humanitária, são cheias de vida e de cor, espelhando o olhar, os sentimentos e os propósitos do autor... e cito-o, “os lugares e instantes aqui retratados (...) são a possibilidade de que cada olhar meu, reflectido em cada imagem, disperte o íntimo de cada um e o interpele a agir”.
Este livro é mais do que uma compilação de fotos, é um compromisso sério com a solidariedade, por um lado, porque o autor se propõe a actuar (dá-nos a conhecer projectos específicos), por outro lado, porque o autor quis que na compra deste livro 25% das receitas revertesse para os projectos da OIKOS (organização para a cooperação e o desenvolvimento).

Para além da forte amizade que nos une, partilho, com o autor, esta paixão pelo “ir despretensioso, mas comprometido com os propósitos do desenvolvimento e da ajuda humanitária. Acredito, como ele, que podemos construir um mundo mais justo, ao sermos cidadãos solidários. E partilhei com ele alguns destes lugares e instantes que são retratados e, por isso, partes deste livro são, para mim, experiências vividas.