quarta-feira, 19 de julho de 2017

Trilhos de natureza e pequenas aventuras (1): o Parque Nacional Peneda-Gerês



Decidi começar a explorar trilhos de natureza. Daqueles que se fazem sem pressas e que a única coisa que nos pedem é que gostemos deles. Há uma imensidão de propostas e sítio fantásticos para conhecer. Mas por onde começar? A escolha foi vizinha, o Parque Nacional Peneda-Gerês*. Sim, eu sei o que estão a pensar J O Gerês é “um mundo”... mas quem é que tem pressa?
Dizer que a beleza do Parque Nacional Peneda-Gerês é inigualável tornou-se já um lugar comum. Não há quem o visite que não fique fã das suas paisagens. A natureza no seu esplendor. E por esse motivo, o Gerês só se pode conhecer por dentro. A sua alma está no som da água que sai das entranhas das montanhas e forma cascatas e piscinas naturais, de água translúcida. Rios, ribeiros e pequenos cursos de água que alimentam o verde da paisagem, que atiçam o espírito de descoberta e aventura dos mais audazes e que permitem verdadeiros deleites visuais. O seu coração está nos batimentos de vida da sua fauna e flora, imensamente diversa, algumas raras, de valor ecológico e etnográfico ímpar. A sua história está nas pequenas aldeias que mantêm raízes firmes na tradição rural portuguesa e nos monumentos megalíticos e de ocupação romana (mosteiros, santuários, pontes, calçadas, caminhos, marcos...) que embelezam o cenário.
Por onde começar? A pergunta voltava a impor-se. Afinal o Gerês é “um mundo”! Não faltam sugestões de trilhos, caminhos e caminhadas. Há para todos os gostos e graus de dificuldade. Com a companhia certa percebes que os trilhos se constroem à tua medida e que, por vezes, quando sais do(s) trilho(s), és surpreendido/a com o melhor... a melhor das paisagem, a melhor das conversas, o melhor dos petiscos ou o melhor dos cansaços, aquele que te faz sentir vivo/a.
Mochila nas costas, calçado confortável e adequado, fato de banho e roupa leve, água fresca e alguma comida... e fizemo-nos à estrada. O dia começou bem cedo e levou-nos à tão conhecida cascata Tahiti, que tanto turismo atrai, à inusitada Cascata Cela Cavalos e à tradicional zona de Pitões das Júnias. Em cada local os caminhos fazem-se a pé e pedem permanências. Afinal, quem é que tem pressa?

    
Cascata Tahiti, Ermida, Gerês
A cascata Tahiti (Fecha de Barjas) é acessível apenas por caminhos pedestres, um tanto sinuosos, o que aumenta a dificuldade no acesso ao local. Mas chegados lá, somos surpreendidos/as pela sua beleza e pela serenidade das águas que beijam as rochas. Não se pode perder o mergulho. As águas são cristalinas e relativamente quentes, olhando ao contexto J

Cascata Tahiti, Ermida, Gerês
Cascata Cela Cavalos, Gerês
Continuamos viagem em direção à Cascata Cela Cavalos. Uma cascata menos movimentada, talvez pelos seus acessos. Estacionado o carro, numa pequena aldeia (Lapela), precisamos de andar mais de meia hora, por caminhos bastante irregulares, mas parte desse caminho é feito com uma vista espetacular sobre o vale e o rio (cávado). A meio, começamos a ouvir o som da água... não se percebe bem de onde vem, mas vai-se tornando mais intenso. E lá está ela! As águas são muito frias, é uma verdade, mas não há como lhe negar um mergulho e descansar sobre as suas gigantescas rochas, que amparam as pequenas lagoas que a queda de água cria.


Cascata de Pitões das Júnias, Gerês

Mais a norte, Pitões das Júnias, uma das aldeias mais visitadas do concelho de Montalegre. Tem percursos pedestres riquíssimos, uma cascata que reflete o verdadeiro espírito da montanha, e um mosteiro – Mosteiro de Santa Maria das Júnias – erguido no século XII, de estilo Românico e Gótico, que é monumento nacional desde 1950. 
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Chegamos lá a meio da tarde, a fome apertava, e por isso a paragem fez-se no Restaurante Casa do Preto (http://www.casadopreto.com/), onde comemos uma sopa bem caseira, acompanhada de pão e uma tábua de queijo e presunto locais. Mas foi a conversa prazerosa com a dona do restaurante que animou a paragem. Visitamos o Mosteiro, mas a surpresa fez-se na cascata. Sem trilho de acesso, lá começamos a descer e a explorar caminhos. Descemos mais um pouco. A vegetação é densa e frondosa, o declive acentuado, mas a descida faz-se em segurança. De repente, os olhos cruzam-se com pequenas piscinas naturais, incrustadas na montanha desnivelada, e viradas para as encostas de outras e tantas montanhas que desenham uma paisagem do local. Ali, o silêncio perfeito da natureza. Ali, sentes-te parte dela. Naquele momento, sentes-te “just a lost boy, not ready to be found”, como diz a letra de uma música.


      
Fachada do Mosteiro Pitões das Júnias, Gerês


 Lateral do Mosteiro Pitões das Júnias, Gerês

Uma das pequenas piscinas naturais da cascata de Pitões das Júnias, Gerês

O regresso fez-se ao entardecer. O pôr-do-sol acompanha-nos e a sua luz bate nos vidros do carro. O cansaço afirmar-se, mas as palavras que se dizem são: venha o próximo!



* Situa-se no extremo noroeste de Portugal, na zona raiana entre Minho, Trás-os-Montes e a Galiza




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